18 de dez. de 2012

ANÁLISE

Faz uma semana que iniciei minha análise. A analista é lacaniana. Passei a ler artigos sobre Lacan para começar a entender como funciona nossa psique para ele. Ainda estou naquele estágio inicial de me sentir perdida. Sei que, por algum motivo e em algum momento, passei a viver sem desejos e, para essa linha da psicanálise, o desejo é o que nos move. Não sei os porquês de várias coisas, muito menos como romper com meus paradigmas. Para Lacan, a vida é reinvenção. Me pergunto como se reinventar quando nossas fantasias são frutos de acontecimentos lá da relação entre o bebe e a mãe? E está claro para mim que a doença é um sintoma. A partir do momento em que eu me der conta de que esse sintoma não serve para nada, será abandonado. Existe em mim um desejo inconteste pelo reconhecimento do outro, daí eu sempre me colocar na posição de quem atende às demandas. O reconhecimento do outro se faz presente quando a falta não é possível de ser elaborada. Muito provavelmente minha mãe não foi a mãe suficientemente boa. Não se preocupara com suprir minhas necessidades, mas cuidara de mim de acordo com suas necessidades, suas vontades. É assim até hoje, quando me trata como um objeto, sem vontades. A não percepção da falta do outro, me faz viver numa tóxica simbiose com o outro, daí minha singularidade nunca é expressa. Ainda sou o falo da minha mãe. Compreendida a situação, permanece a questão: Como resistir? Se nos movemos de acordo com nossos desejos, então estaria eu a desejar a morte? Não. A doença não é um sintoma de um desejo pela morte; a doença é um sintoma de um desejo pela vida, não compreendido, não realizado. Além de ter de identificar meus desejos, preciso também identificar o que chamam de estádio do espelho, que me leva à ação. Por exemplo, eu me dei conta de que estava vivendo uma vida de barata no trabalho, como no livro Metamorfose de Kafka, quando concluí que, por mais que estivesse a dedicar minha vida àquilo, fui preterida num cuidado que achava ter direito a, em primeiro lugar. Explodi: é como se não me enxergassem, como se fosse invisível! Em casa também, quando meu marido demonstrou que eu não era merecedora de todos os cuidados que me dedicava, saí de meu estado de inanição. Compreendi que toda aquela inércia era desnecessária, porque não realizaria jamais meu desejo impossível de simbiose absoluta. 

16 de dez. de 2012

ENVELHECER

Vc se da conta do quanto envelheceu quando vai a uma festa de formatura e achando que, como no seu tempo, o 2º bloco de músicas, pós-valsa, é o melhor, reserva toda sua energia para dançar nesse momento e aí quando ele chega com uma sucessão sem fim de sertanejo, passa para Fagner, Sidney Magal, Gretchen, Xuxa, Balão Mágico (daí para frente não paguei para ver), conclui que o melhor bloco de músicas para vc passou a ser o 1º.

14 de dez. de 2012

PSICANÁLISE

Como Woody Allen, com suas sátiras, ou Cazuza, para quem pagar um analista é uma forma de nunca mais saber quem se é, sempre desacreditei da terapia, até ter a sorte de encontrar "O" terapeuta. Cazuza disse certo, com a intenção errada. Vc nunca mais vai saber quem é, ou melhor, quem pensa que é, até porque não se é, se está sendo. A vida é ação, no candomblé, movimento, no inglês, "i'm being". É assustador e ao mesmo tempo excitante se desconstruir e ter de ser reinventar.

5 de dez. de 2012

TRÂNSITO

De todas as atitudes machistas, confesso que tem apenas uma da qual não me livro. Não sei por que motivo considero um xingamento dirigido a uma mulher por um homem muito mais ofensivo do que a um homem ou o inverso. Sei lá, se fosse homem acho que jamais cometeria tamanha indelicadeza, me sentiria meio eunuco se o fizesse. Hoje, fui xingada no trânsito porque numa rotatória, sem pare, fiz valer a minha preferencial, pois já me encontrava na rotatória. Infelizmente, muita gente, não sei o porquê, já que há prova teórica para habilitação e renovação de CNH, não sabe que numa rotatória, sem sinalização de pare, a preferencial é de quem já se encontra na rotatória, assim como num cruzamento, sem sinalização de pare, a preferencial é de quem vem à direita. Deveria existir uma campanha televisiva nesse sentido, já que muitos não lêem as regras de trânsito, acham que dirigir é só acelerar, frear, dar ré, fazer baliza e etc. Por essas e outras, meu desejo de me mudar para o interior só cresce. Está cada dia mais complicado conviver num espaço público com tanta gente que não se respeita.  

20 de nov. de 2012

AINDA

Como uma adolescente, ainda sofro com o sentimento de não pertencer a este mundo. Mas não tenho vontade de partir desta para melhor. Amo viver. Acho que todos nós, no fundo, mantemos uma relação de amor e ódio com a própria existência. São esses opostos, como tese e antítese, que nos impulsionam.

17 de nov. de 2012

DIARISTA


Para os anais dos assuntos domésticos.
Estou com uma nova diarista e ela me pergunta se eu prefiro que vá limpando e colocando as coisas no lugar ou não. Mesmo sem entender direito a pergunta, fiquei com a primeira opção, mas disse que se ela colocasse as coisas em lugares diferentes, por se esquecer de onde tirou, não teria problema.
Ela então, me corrigindo, explicou que nas casas onde trabalha tira tudo do lugar para limpar e sai limpando. Como assim? Perguntei. Onde vc coloca as coisas? Ela exemplificou. “Por exemplo, limpo essa mesa, coloco as cadeiras em cima para limpar o chão, e assim deixo, minha patroa é quem coloca no lugar”. Me imaginei chegando do trabalho 21h00 e, depois de pagar R$ 110,00, por 8 horas, para ela limpar a casa (só limpar porque passar teria de contratar uma passadeira), encontrar tudo no chão ou na mesa para eu recolocar no lugar. Minha estante de livros! Diaristas domésticas não estão se transformando em artigo de luxo, mas em comediantes. Só rindo.

14 de nov. de 2012

Despedida na sessão plenária do Supremo Tribunal Federal do Ministro Ayres Brito não poderia passar sem suas frases filosóficas: "as rugas aumentam para que as rusgas diminuam"; "derramamento de bílis e produção de neurônios não combinam"; "o juiz não deve impor respeito, mas impor-se o respeito"; "perguntaram à Madre Teresa de Calcutá, uma vez, se ele acreditava no juízo final. Ela respondeu afirmativamente, mas que não sabia como seria o Céu. Mas que sabia que, lá no Céu, não perguntariam quantas ações você fez, mas quanto de amor você colocou em cada uma de suas ações”.

9 de nov. de 2012

SARDENBERG

É sempre engraçadíssimo ver Sardenberg no Jornal da Globo falando sobre economia, ao mesmo tempo em que interage com o painel eletrônico, touch screen, que nunca funciona direito.

20 de out. de 2012

MENSAGEM A ALINE

Aline, comentei a última postagem do seu blog e já havia te localizado no face, deixei mensagem. Me encontro em situação semelhante à sua. Já fiz trocentos tratamentos que não deram certo, dois transplantes e necessitava de um terceiro, porém todos os hematos me disseram que eu não suportaria, porque estou com rins e fígado sobrecarregados. Nos meus últimos seis meses de UTI, passei por hemodiálises, pois meus rins pararam totalmente devido a sobrecarga de medicamentos. Enfim, depois de muito perambular de consultórios em consultórios, o Dr. Nelson me prescreveu um medicamento novo, brentuximab vedotin (aprovado em novembro de 2011). É uma imunoterapia. Eu e outra garota, paciente do Dr. Jairo, portadoras de linfoma de hodgkin recidivado, estamos em tratamento e obtivemos resposta de 90% já nas primeiras sessões. Para quem quase não andava antes do tratamento, é um verdadeiro milagre. Inclusive, voltei a trabalhar e retomei, na medida do possível, a normalidade da minha vida. Entretanto, por ser um medicamento importado ainda não autorizado pela ANVISA (apenas o FDA, agência reguladora dos EUA, autorizou, portanto, não é tratamento experimental, já cumpriu todas as fases de pesquisa e é comercializado), os entraves para sua obtenção são enormes. Eu tenho um plano de saúde, contra o qual ajuizei uma ação. Obtive liminar e sentença favorável. A seguradora entrou com recurso. A outra garota, salvo engano, procurou o Ministério Público de sua cidade (se não me engano, ela é da região nordeste). O MP ajuizou uma ação contra o Estado, para que este custeasse o tratamento. Sou formada em direito, mas não advogo, por ocupar cargo público (por lei, estou impedida), mas se precisar de alguma ajuda/esclarecimento nestas questões legais, estou à disposição.
Se o TMO não é um tratamento viável para vc, a ÚNICA ALTERNATIVA é o brentuximab vedotin e, sendo única alternativa, o Estado obriga-se a custeá-lo.Aline, gostei muito do seu blog, e me identifiquei muito com você, não apenas pela luta que enfrenta, mas pela forma como a enxerga. Eu nado há mais de 11 anos (meu diagnóstico foi em junho de 2001), e agora não aceito mais, depois de tudo a que me submeti, morrer na praia. Ao contrário de muitos que passam por problemas semelhantes, não me identifico com as ideias de que isso tudo tenha um sentido, de que passei a dar valor às pequenas coisas da vida, ou de que me tornei uma pessoa melhor, ou, pior, de que escolhi o fardo antes de encarnar, lei da causa e efeito, castigo de Deus, etc, etc, etc. Nem mesmo aceito os elogios de que sou uma pessoa forte. Passo pelo que tenho de passar por falta de opção e covardia diante da morte (acho que o ser humano inclina-se naturalmente para a vida; o esforço dá-se no sentido contrário).Assisti à entrevista do Gianechini para Marília Gabriela e, ao contrário dele, responderia, na primeira pergunta, que, após o linfoma, a vida, para mim, se tornou, não mais simples, mas mais complexa, para a qual o imponderável está sempre presente, sem leis que o governem. Se, por um lado, o caos nos torna mais órfãos, de outro, demonstra nossa grandeza e nossa irmandade, sob um céu onde Deus nos ama e ponto.E ver os acontecimentos assim como são, sem dourar a pílula, ao contrário do que os outros possam imaginar, é que me impele à vida. Não desisto dela, porque faça algum sentido, mas porque, mesmo sem sentido, é o que há de mais divino e precioso, gosto dela assim, sem precisar inserí-la num comercial de margarina.Não sei se minhas palavras fazem bem ou não a vc, mas digo-lhe que é essa minha capacidade de me indignar, de não aceitar, que me mantém em pé até hoje.Quero lhe ver assim, lutando sempre e ganhando a batalha!Um grande abraço, 

19 de out. de 2012

LARISSA - ESPREMENDO O LIMÃO

Larissa, acabo de conhecer seu blog, por acaso (como tudo na vida), vasculhando este vasto mundo virtual (mais fácil teria sido nos esbarrarmos por aí, em tratamento, pois também fui paciente do Dr. Miyagi). Pesquisava sobre   o provável tratamento a que terei que me submeter: vacina de células dendríticas ou transplante de medula óssea. O "ou" é por minha conta, meu médico disse "e" (risos). Ao topar com você, tive um acesso tão grande de ansiedade, subia e descia a barra lateral, freneticamente, em busca dos primeiros posts, queria ler e absorver tudo de uma única vez, e tive pânico de o blog, de repente, sair do ar, e eu acabar perdendo o tesouro encontrado. A tudo isso, some-se o penúltimo capítulo da novela "Avenida Brasil" começando (risos). A leitura sobre sua vida me fisgou, e a novela ficou de lado (risos). Se somos únicos em nossa individualidade e maneira de ver o mundo, diria então que não encontrei a mim mesma, mas a uma irmã gêmea. E você, por mais que eu não esteja sozinha nessa luta, me fez sentir menos só. Sei que muitos são os casos de linfoma no mundo. Mas até então só conhecia pessoas que se curaram  ou morreram. Eu ainda nado, há 11 anos (e não aceito morrer na praia). Como você, também fiz dois transplantes (autólogo e alogênico, o terceiro é cogitado), vários protocolos quimioterápicos, internações em UTI's, quatro radioterapias, interleucinas, brentuximab, e inúmeras complicações que não vêm ao caso (cansam para contar). Me emocionei com o milagre de sua gravidez, seu casamento e todos os outros acontecimentos de alegrias, tristezas, medos e superações. Estou casada com o mesmo namorado que, com um mês de namoro, recebeu a má notícia junto comigo e de mim, para minha sorte, nunca mais se separou (tinha 22 anos de idade e estava há seis meses do meu diploma universitário). Gostaria tanto de manter contato, conversar. Se puder me responder, me dizer como está, ficarei muito feliz. Beijos.  

18 de out. de 2012

DIA DOS MÉDICOS

Quero prestar especial homenagem aos que dedicam suas vidas a tornar as dos outros melhor. Em especial a meu querido médico Nelson Hamershlack e equipe e Dr. Eduardo Meyer e equipe, seres humanos iluminados. Sem a fé deles a minha seria menor, e certamente eu não estaria mais aqui. Tê-los ao meu lado, independentemente do final da trajetória, é um privilégio, um alívio para minha alma, um sopro de vida para meu coração.   

15 de out. de 2012

GRACILIANO RAMOS

Enfim, chegaram. Nunca desejei tanto umas férias. Vou aproveitar para pensar sobre a vida, fazer ou refazer planos e... ler. A começar por um dos meus autores preferidos, Graciliano Ramos. Faz tempo que comprei o livro Angústia e até hoje não o li. Aliás, faz tempo que não leio um livro. Para quem vivia com um na mão, à cabeceira, na bolsa, no trabalho, em todos os lugares, significa uma enorme abstinência. Meu sonho, tão distante: um dia escrever como Graciliano.

“Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer.” [Graciliano Ramos].
Filosofias orientais orientam o caminho do meio, mas, se não puder segui-lo, é sempre preferível o pouco ao muito. Um pouco de alegria, um pouco de tristeza, um pouco de beleza, um pouco de feiura. Um pouco de qualidade, um pouco de defeito, um pouco de amor, um pouco de ódio. Pense.
Não quero ser mãe, não consigo conciliar a ideia de ser mãe e mortal. Penso que, se for mãe, não poderei morrer. E a morte para mim sempre foi uma possibilidade muito iminente.
O que me fascina no conhecimento é ser inesgotável. Vida se esgota, conhecimento não.

7 de out. de 2012

FUTURO

Nunca acreditei em videntes e cartomantes. Um dia estive frente a uma, por circunstâncias totalmente alheias a minha vontade. Nunca me esqueci, não das doces mentiras que nossos ouvidos buscam ouvir embrulhadas de previsões, mas da simples declaração de amor à vida e às pessoas que fez. A senhora olhou profundamente em meus olhos (e poderia ter parado aqui, porque seu olhar era daqueles que antecipam toda a beleza por vir) e disse: "Filha, nunca saí desta casa, embora tivesse tido oportunidade de conhecer outros lugares, como por exemplo Goiás, onde mora meu filho. Mas, lhe digo, não teria sido mais feliz em nenhum outro canto como fui aqui, com o meu velho." Videntes e cartomantes continuam sem crédito comigo, mas a humanidade marcou um ponto com esta velhinha, pela sinceridade com que falou sobre a felicidade estar dentro da gente. Pessoas me interessam pelas sabedorias de vida que passam, despretensiosamente. Um clichê jamais será apenas um clichê quando dito com sinceridade. Eu te amo, por exemplo.    

PABLO NERUDA


Se não fosse porque têm cor-de-lua teus olhos,
de dia com argila, com trabalho, com fogo,
e aprisionada tens a agilidade do ar,
se não fosse porque uma semana és de âmbar.


Se não fosse porque és o momento amarelo
em que o outono sobe pelas trepadeiras
e és ainda o pão que a lua fragrante
elabora passeando sua farinha pelo céu,

oh, bem-amada, eu não te amaria!
em teu abraço eu abraço o que existe,
a areia, o tempo, a árvore da chuva,

e tudo vive para que eu viva:
sem ir tão longe posso ver tudo:
vejo em tua vida todo o vivente.

(uma das minhas preferidas do poeta)

COMO TUDO NA VIDA

Em tempo de relacionamentos efêmeros, me perguntam o segredo de um relacionamento de mais de 10 anos. Segredo nenhum. Nada que todo o mundo não saiba: carinho, respeito e admiração. Mais maturidade e menos egocentrismo, simples assim, como tudo na vida.

4 de out. de 2012

POP ZEN

Que delícia a descoberta desta música no CD MTV Acústico do Arnaldo Antunes. A música é de uma banda baiana, que não existe mais, Lampirônicos.


Marisa Monte

Marisa Monte, saudades do tempo de "Verde, anil, amarelo, cor-de-rosa e carvão" e de "Barulhinho bom". Marisa Monte, por favor, se encontre!




LEGIÃO URBANA

Revendo o DVD do Legião Urbana, músicas de toda uma geração, com memórias de infância e adolescência, portanto, acima do "boa" ou "ruim".



8 de abr. de 2012

Sou uma ferida de guerra. Um ex-combatente, que sobreviveu à guerra, mas cheio de neuroses.  

SÃO FRANCISCO XAVIER

São Francisco Xavier é um distrito de São José dos Campos, localizado a 170 km da capital de São Paulo. Uma pequena vila, de ruas de paralelepípedos, com um centrinho charmoso, simpático e acolhedor. Muito verde, corredeiras e cachoeiras. À noite, o visual da neblina permeando as montanhas é lindo. Recomendo a pousada Villa Vittoria (http://www.villavittoria.com.br/ . Um pedacinho da Toscana no meio das montanhas, com jardim florido e lindos aceres ao longo do caminho que leva ao chalé, impecavelmente decorado e cuidado por mãos detalhistas e delicadas da proprietária Monica. Café da manhã maravilhoso e um ovo mexido...hum...segredo: preparado com requeijão. Para almoçar ou jantar, o restaurante Alegro é imbatível. O melhor frango caipira e a melhor truta que já  provei (http://www.alegrorestaurante.com.br/). De sobremesa, ambrosia. No caminho das artes, cerâmica da Cláudia, arte em madeira de Thania Negrão, pinturas em tela e máscaras venezianas. Um lugar para desacelerar e apreciar.












2 de abr. de 2012

FELICIDADE

Dizem que a felicidade é um estado de espírito, mas, felizmente, para nosso deleite, pode ser incrivelmente palpável, comestível, de encher os olhos...



30 de mar. de 2012

Coisas do Judiciário

Um desembargador aposentado, atualmente advogado, foi ao Tribunal onde trabalhou advogar. Resolveu estacionar seu veículo dentro do prédio do Tribunal, onde teve uma vaga privativa, quando desembargador. Ou esqueceu-se de que não era mais desembargador, mas advogado, ou de que é advogado, e não mais desembargador. Certo é que, não contando com aquela vaga privativa transferida para seu sucessor no cargo, resolveu estacionar seu veículo numa vaga para deficiente. Quando avisado pelos seguranças de que a pessoa que tem direito à referida vaga aguardava para estacionar, o esquecido ou desavisado ou deseducado, sem retornar para retirar o carro, disparou: "é rapidinho, vou ali resolver uns negócios", e subiu pelo elevador privativo destinado a desembargadores.

6 de fev. de 2012

AMAR


"Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados amar?


Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia, 
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?


Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o cru,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave
de rapina. Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.


Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita."

O poema acima de autoria de Carlos Drummond de Andrade fala do amor, do "amor sem conta", amor incondicional, sem razão ou explicação, amor que é desejo, sentimento, que não se esgota, amor por ausência, por insuficiência, que nunca é o bastante.
Resolvi escrever sobre o amor ao ouvir a frase "amar é decisão, e não sentimento".
Não sei se concordo com ela.
Para mim, dedicação e entrega (a frase continua "é dedicação e entrega") são consequências do amor, e não o amar em si. Não acredito que, numa cultura social em que as pessoas não escolhem seus próprios parceiros, possa a decisão de cada um deles de se amarem reciprocamente ser suficiente ao nascimento do amor.
Também não acredito no amor à primeira vista. Aquela sensação de "borboletas no estômago", de se quererem bem e de se sentirem bem, a que muitos chamam de amor, talvez seja paixão, talvez um nome ainda não dicionarizado, mas amor não pode ser.
Porque amor é muito mais que isso e demanda muito tempo para despontar.
Amor é quando dois tornam-se um e, de tão imbricados que vivem, já não é mais possível distinguir o que é genuinamente de um ou um mero eco do outro.
Amor é quando a vida do amado passa a ser tão ou mais importante que a do próprio amante, para quem a perda do amado é uma perda de si mesmo.
Como escreveu Lygia Fagundes Telles:

"Estranho, sim. As pessoas ficam desconfiadas, ambíguas diante dos apaixonados. Aproximam-se deles, dizem coisas amáveis, mas guardam certa distância, não invadem o casulo imantado que envolve os amantes e que pode explodir como um terreno minado, muita cautela ao pisar nesse terreno. Com sua disciplina indisciplinada, os amantes são seres diferentes e o ser diferente é excluído porque vira desafio, ameaça.
Se o amor na sua doação absoluta os faz mais frágeis, ao mesmo tempo os protege como uma armadura. Os apaixonados voltaram ao Jardim do Paraíso, provaram da Árvore do Conhecimento e agora sabem."



3 de fev. de 2012

PINHEIRINHO

Caso Pinheirinho: mais uma demonstração de que a briga de vaidades no Judiciário é quem decide. O STF e STJ já bateram o martelo ao deliberarem que quem decide sobre eventual interesse da União nos processos é a Justiça Federal. Rodrigo Capez, quem determinou o descumprimento da ordem federal do Desembargador Federal Antonio Cedenho, "botando tudo pra quebrar", se defende dizendo que a decisão da Justiça Estadual de reintegração de posse é soberana, ou será que sua atitude indefensável tem a ver com o fato de ser irmão do Deputado Estadual do PSDB, Fernando Capez?

Abaixo, você assiste ao vídeo em que o Defensor Público Jairo Salvador explica o que, de verdade, aconteceu:

GREVE NA BAHIA


Não consigo me posicionar a respeito da greve da PM na Bahia, se os policiais podem, se não podem parar, se legítimas ou não suas reivindicações, porque ainda não consegui aceitar a ideia do "direito de greve". Greve, por conceito e para não cairmos em contradição, não me parece algo que possa ser regulamentado por lei, é meio absurdo, paradoxal, estou certa?


É como se o Estado dissesse: Olha, todos devem obediência ao Estado e ao estado de coisas estabelecidas por lei. Agora, se é para desobedecer, que seja dentro das regras que eu Estado crio.

PENSAMENTOS

Infelizmente, para a vida não há manuais e, caso houvesse, seriam todos inúteis, pois, ainda que parecidas as histórias e as pessoas, cada ser é único no modo com que se doa e recebe do mundo, e esse não é sempre um sol que se abre pra todos; às vezes, e muitas, é penumbra que se estende ao longe, feito túnel sem fim na luz. Por isso, deixo de pensá-la, a vida, como uma sucessão de causas e efeitos, que, caso previamente conhecidos, me fariam tomar a decisão certa para obter o resultado desejado. O imponderável está sempre presente e, se possível fosse criar alguma "receita" de viver, essa seria assim: não tema o acaso, o imprevisto, o nonsense, as coisas sem sentido, elas existem e ponto, a despeito de psicólogos, religiosos e gurus de plantão insistirem no contrário e de sua busca desenfreada por uma razão, motivo ou sentido para a vida.     

31 de jan. de 2012

O QUE GOSTARIA DE TER ESCRITO A VOCÊ

"Você não precisa saber que eu choro porque me sinto pequena num mundo gigante. Nem que eu faço coisas estúpidas quando estou carente. Você nunca vai saber da minha mania de me expor em palavras, que eu escrevo o tempo todo, em qualquer lugar. Muito menos que eu estou escrevendo sobre você neste exato momento. E não pense que é falta de consideração eu dividir tanto de mim com tanta gente e excluir você dessa minha segunda vida, porque há duas maneiras de saber o que eu não digo sobre mim: lendo nas entrelinhas dos meus textos e olhando nos meus olhos. E a segunda opção ninguém mais tem." Veronica H.

29 de jan. de 2012

BRASILEIRO E O SERVIÇO PÚBLICO

A moça que trabalha em casa (diarista) tem uma filha dislexa. Falei sobre a existência da ABD (Associação Brasileira de Dislexia), que oferece atendimento por equipe multidisciplinar. Pergunta se ela, com telefone e endereço em mãos, procurou o serviço. Claro que não. Um dia desses ainda me disse que não vê a hora de poder pagar à filha uma escola particular (aliás, hoje ela está passando as férias com os avós na Bahia e a matricularam numa escolinha particular de reforço, mesmo com todas as privações por que passam). Esse é um de tantos outros exemplos que teria para contar para concluir que brasileiro acha que tudo que é público é gratuito, e que tudo que é dado de graça não presta. Os serviços públicos são ruins porque as pessoas, ao invés de exigirem melhorias, não os querem, fogem deles como o diabo foge da cruz. E nem sempre isso (qualidade ruim dos serviços públicos) é verdade. Por exemplo, os maiores especialistas da área médica estão no HC (Hospital das Clínicas), em São Paulo, e a Defensoria Pública faz um trabalho muito superior a muitos advogados por aí. Os serviços públicos, de uma forma geral, vão mal, mas, a continuar o estigma de que devem ser destinados apenas para pobres e que, em tempos atuais, ninguém quer ser pobre (todos querem ascender socialmente), ficarão piores.

OBA MORRISSEY NO BRASIL

A última passagem de Morrissey pelo Brasil foi em 2000. Infelizmente, na época, não pude ir ao show. Imaginem minha felicidade ao ouvir no rádio que Morrissey fará apresentações em março, em São Paulo, no Espaço das Américas, Barra Funda, dias 11 e 12. Hehehehehehehe!!!! Com certeza estarei lá. Pena que ainda nada divulgaram sobre compra de ingressos. Melhor ficar de plantão, antes que rapidamente se esgotem.
Até lá, cd's e vídeos.

Heaven knows I'm miserable now.



Um adendo: alteraram o local do show para o Via Funchal.

23 de jan. de 2012

PARA OUVIR A DOIS - CONTINUAÇÃO

Só hoje, ouvindo no rádio "We just don't care" de John Legend, lembrei-me de não poder deixar de incluir na lista de músicas para ouvir a dois essa música, feita no mais alto estilo de Marvin Gaye, com "Let's get it on".




9 de jan. de 2012

ETERNIDADE

Hoje, assistindo ao filme "Quincas berro d'água", ouvi em uma das cenas "A noite do meu bem", música imortalizada na voz de Dalva de Oliveira. Lembrei-me de uma doce amiga do colegial. A mãe tinha o hábito de cantá-la em casa, e ela cantava para mim durante as aulas. E saber da existência dessa música por ela foi mais importante para minha vida do que todos os saberes que tão bem-intencionadamente os professores desejavam me ensinar. Sempre que a escuto, lembro-me dela, tão melancólica, cantando.
Um dia perguntei ao padre com quem trabalhei na Pastoral Carcerária se acreditava em vida eterna, tal qual apregoava, e ainda apregoa, a igreja católica. 
Ele respondeu que eternidade para ele é quando fazemos o bem a alguém, e esse alguém o transmite a novo alguém, que transmite a outro, e a outro, e a outro, infinitamente.
"A noite do meu bem" imortalizou-se dessa forma. A minha amiga imortalizou-se, para mim, cantando "A noite do meu bem". E eu quero um dia poder cantá-la também para minhas crianças.


CRIANÇAS SÃO SÓ CRIANÇAS?

Minha sobrinha de 7 anos, enquanto pintávamos mandalas, me perguntou:
- Tia, vc tinha muitas amigas quando era criança? 
- Não, tinha poucas.
- Quantas?
- Tinha umas três (só não expliquei que na conta incluía minha irmã - até hoje uma grande amiga- e uma prima).
- Eu só tenho uma, as outras é tudo falsas.
Surpresa, não lhe disse que demorei, pelo menos três vezes a sua idade, para descobrir isso.
É claro que, hoje, com mais de 33 anos, meu mundo não é mais assim, digamos, tão dicotômico (amigos verdadeiros, amigos falsos), mas assusta um pouco ver que para crianças desta idade o pano do teatro mágico já caiu. Nessa idade, até em papai noel eu acreditava.

6 de jan. de 2012

CRESCIMENTO SUSTENTÁVEL - OXÍMORO?

Hoje assisti à parte de um documentário chamado "Obsolência programada", que trata da lógica da economia capitalista de crescer por crescer, a ponto de todas as coisas produzidas terem uma vida útil cada vez menor, o que, por um lado, estimula o consumo e, de outro, aumenta os resíduos (o que fazer com eles, onde descartá-los?). O primeiro produto a sofrer da tal obsolência programada foi a lâmpada. Criada para durar 1500 horas, aos poucos o mercado foi dominado por cartéis, que passaram a controlar o consumo e a ditar seu tempo de vida útil, introduzindo dispositivos que reduziram aquelas horas. E a idéia espalhou-se para todos os setores e bens de consumo. O lema de nossa sociedade atual é "comprar, jogar fora, comprar". O custo do conserto de um bem durável hoje em dia praticamente atinge o valor de um novo, o que faz com que o descarte e a compra de um novo sejam a opção escolhida pela sociedade de consumo.
Economistas igualam a lógica capitalista ao câncer, o único que cresce por crescer.
Os reflexos desse comportamento já são sentidos e temas como o crescimento sustentável estão na ordem do dia. Afinal, o mundo é finito e por isso não comporta um crescimento infinito da economia.
Sobre o assunto recomendo a leitura do texto http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-753X2004000200012&script=sci_arttext, que, em resumo, afirma:

"Desenvolvimento sustentável deve ser desenvolvimento sem crescimento – mas com o controle da população e a redistribuição da riqueza – se é para ser um ataque sério à pobreza."


4 de jan. de 2012

PARATI OU PARATY

Parati é nome de peixe, Paraty significa água de mar. Hoje a grafia utilizada é Parati. Uma cidadezinha patrimônio nacional (atualmente pleiteia o título de patrimônio universal junto a UNESCO), cujo centro histórico já vale a viagem. Foi o que fizemos nesse Reveillon. Nada de praia, embora Parati possua mais de 300, muitas acessíveis apenas por barco, paradisíacas. O tempo também não ajudou muito, já que estava nublado, então aproveitamos para dormir, comer e andar pelas charmosas vielas de pedras ladeadas por casarões coloniais. Parati, embora pertença ao Estado do Rio de Janeiro, foi um grande porto para escoamento dos produtos paulistas e mineiros, como café, ouro e açuçar, ao exterior.
Dizem que a cidade foi fundada por maçons. O símbolo maçônico do triangulo é visto em todos os cruzamentos das ruas. Vê-se que todos os três imóveis de esquina, exceto um portanto, possuem uma coluna em pedra, o que forma um triângulo imaginário, símbolo da maçonaria.
Outros fatos interessantes são que o centro histórico foi construído com 33 quarteirões e as casas construídas na escala 1:33.33, número maçônico. Observa-se também que alguns casarões preservaram faixas com desenhos geométricos, que também identificavam os maçons, além da tradicional pintura branco e azul turquesa. 
Algumas imagens com os símbolos:



Hospedamo-nos na pousada Pardieiro, localizada no centro, em trecho na rua do comércio bem residencial, silêncio total e um jardim interno com muita natureza e sons de passarinhos.

A pousada é charmosíssima. Foi de propriedade do saudoso Paulo Autran. Possui móveis antiquíssimos e o café da manhã é servido ao som de música clássica. Você literalmente volta no tempo. Está na lista dos 1000 lugares a conhecer antes de morrer, merecidamente.

A pousada é para os que gostam de contato com a natureza, silêncio, conversas (os apartamentos não possuem televisão, nem cd player), enfim, se desligar do mundo apressado de hoje.

Aqui vai o link da pousada:

Para comer indico: Café Pingado - http://cafepingadoparaty.blogspot.com/ . Todos os doces são excelentes, sem falar no café, capuccino, mocaccino. Se você quer fazer uma refeição leve, tem tortinhas salgadas acompanhadas de salada. E os precitos são bem camaradas.

Para quem quer saborear uma boa moqueca de camarão (no cardápio consta bobó de camarão, mas achei que estava mais para moqueca), indico o restaurante Sabor do Mar - http://www.paraty.com.br/sabordomar/. Serve duas pessoas e custa R$ 100,00. Eles também trabalham com vários pratos com peixes, que são todos fresquinhos, você escolhe na vitrine.

O meu queridinho, pela tenda armada na área externa e a excelente cozinha mediterrânea, é o Refúgio - http://www.restauranterefugio.com/. Mas se prepare para gastar. Os melhores pratos são os mais caros. O meu preferido é o camarão à moda do Nick, em homenagem a um antigo pirata que rondava pela região. Esse prato é individual e custa R$ 88,00.

Com preços mais acessíveis, tivemos indicação pela pousada do Chafariz. É um restaurante antigo em Parati. Ao passar em frente, você não dá nada por ele, mas se a pousada indicou é porque deve ser bom. Infelizmente, não tivemos tempo de experimentá-lo, assim como também não fomos ao badalado Banana da Terra, super recomendado, também tradicional na cidade, mas da linha de restaurantes caros.

Para massas, o Punto Divino - http://www.puntodivino.com.br/. Não gostei da pizza, mas as massas, recomendo.

Não gostei do galeria do engenho, na rua da Lapa. A não ser que você curta uma comida boiando no óleo... Pedimos uma lagosta, que no cardápio seria grelhada. A lagosta foi frita e levemente empanada. O gosto era de óleo velho, com gosto de peixe, provavelmente aproveitado de outra fritura. Senti gosto de óleo, de peixe, menos de lagosta. E o atendimento é dos mais lerdos que já vi. Não que eu estivesse com pressa, mas sabe aquela situação de você levantar a mão para fazer algum pedido e o garçom fingir não ver, fazendo cara de paisagem? Pois é.