28 de nov. de 2011

IRACEMA MACEDO

Para quem gosta de Carlos Drummond de Andrade e/ou Nietzche, deixo aqui um link em que publicado o trabalho de Iracema Macedo, filósofa e poeta, que traçou um paralelo entre ambos, a partir dos poemas "os ombros suportam o mundo" e "amar". É um texto de leitura agradável, nada difícil, até mesmo para os leigos. Vale a pena ler:

http://www.ufjf.br/revistaipotesi/files/2011/05/10-Dois-poemas-de.pdf

ATITUDE

Escolher fazer é fazer. Escolher fazer, e não fazer, e se, mas e, é que, não passa de discurso (para enganar  quem?) Escolher é desejar o escolhido, sem espaço para senões.

FELICIDADE - VICENTE DE CARVALHO

Ainda me lembro do dia em que li essa poesia e do que senti, no primeiro ano da faculdade, quando passava boa parte do meu tempo na biblioteca central, ao invés de metida entre os livros de direito (o que me custou caro, rs). Muita sorte e um espanto me deparar com essa poesia tão linda, ali à espera de um leitor, escondida dentre tantos livros e tantas páginas. Peguei o livro por acaso e abri na página exata do poema e, após lê-lo, quase perdi o fôlego.

"Só a leve esperança, em toda a vida,
Disfarça a pena de viver, mais nada,
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.
O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.
Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa que sonhamos
Toda arreada de dourados pomos
Existe, sim: mas nós não a alcançamos,
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos."

18 de nov. de 2011

E QUANDO SE RECORRE À JUSTIÇA E ELA É INJUSTA, RECORRE-SE A QUEM?


Um causo. Real. Minha irmã queria mudar de plano de saúde, para um melhor. Contatou um corretor (da Qualicorp), assinou a proposta de adesão e cancelou o plano que tinha. O corretor embolsou o cheque da 1ª mensalidade, mas se esqueceu de registrar a proposta na seguradora, a OMINT. Resultado: minha irmã ficou sem plano de saúde. Conversa vai, conversa vem, aquela história que todo brasileiro conhece bem, de que vão resolver, mas ninguém resolve nada, minha irmã resolveu entrar com uma ação judicial. Na ação, fizeram um acordo. Minha irmã apresentava a documentação necessária para comprovar que é filiada à FECOMÉRCIO, e eles a incluiriam no plano. Depois de firmado o acordo, a documentação foi recusada, porque a empresa da minha irmã (aquela que muitos emprestam só o nome, mas não participam da gerência e das atividades) estava fechada. Veredicto da Justiça: minha irmã foi negligente, porque, antes de fechar o acordo, deveria ter visto se a empresa ainda estava funcionando ou não. Detalhe: antes de propor o acordo, a QUALICORP E OMINT pediram à minha irmã a documentação para verificarem se ela era filiada à FECOMERCIO, ou seja, quando propuseram o acordo, eles já sabiam que ela não era filiada e que, portanto, se safariam do cumprimento do acordo.
A "negligência" de minha irmã foi punida. A "negligência" da QUALICORP E OMINT, que perderam a proposta assinada, não.
Nossa Justiça é cega; não cega de imparcial, não. Cega de cegueira mesmo, de tão obtusa.
Recorrer a quem agora?

DEPOIS DO RECESSO

Tanto tempo sem escrever, voltei. Escrever, como tudo na vida, é ato de vontade e há momentos em que precisamos de um retiro, de fazer barulho por dentro, organizar a bagunça e, só depois, nos comunicarmos com o mundo, esperando sermos compreendidos. 
Há dez anos, luto contra uma doença. No início, as chances de êxito eram de 90%. Como acabei no lado dos 10%, minhas chances de viver, ao longo do tempo, foram reduzidas a pó. Hoje, os médicos não conversam mais em termos de probabilidades de cura, mas de inventar um tratamento, um novo protocolo quimioterápico, que já não tenha sido utilizado. Tudo isso, porque exijo tratamento, não joguei a toalha ainda.
Mas devo confessar que, depois de minha última internação, estou bastante abalada. 
Faço questão de viver, mas não consigo viver. Fico à espera de nem sei ao certo o que. Suspensa, enquanto a vida escorre. E para complicar, minha dificuldade de respirar me impede de fazer muitas coisas, uma delas, minha paixão, dançar.
Não tenho medo da morte. Tenho medo de querer morrer e não conseguir.
Na última internação, experimentei o pior estágio de sofrimento humano. Não o estágio da dor, muito embora esta estivesse presente. Mas o estágio do terror, aquele em que a sua vontade e capacidade de ação, de superação, são completamente anuladas.
Por meses, permaneci imóvel, uma alma presa a um corpo, que não se mexia, falava e enxergava. Um corpo incapaz de expressar qualquer sentimento. Como um vivo dado por morto, compreendia e ouvia tudo, mas não podia participar de mim. Não podia fazer escolhas, nem ter resolvidas minhas necessidades, sede, fome, dor. O máximo do terror a que um ser humano pode se aproximar: sua vida sendo decidida por fora, sem qualquer conexão com o que se passava por dentro, no corpo objeto das decisões tomadas por outros. Após essa experiência, entendi toda a questão envolvendo a eutanásia. Um ser humano pode escolher viver, mas, em que pese sua escolha, acabar morto, porque a vida não é do domínio do homem. Ao contrário, pode escolher morrer e concretizar sua morte, porque esta é de seu domínio. A proibição da eutanásia vai de encontro a essa lei da natureza.