18 de dez. de 2012

ANÁLISE

Faz uma semana que iniciei minha análise. A analista é lacaniana. Passei a ler artigos sobre Lacan para começar a entender como funciona nossa psique para ele. Ainda estou naquele estágio inicial de me sentir perdida. Sei que, por algum motivo e em algum momento, passei a viver sem desejos e, para essa linha da psicanálise, o desejo é o que nos move. Não sei os porquês de várias coisas, muito menos como romper com meus paradigmas. Para Lacan, a vida é reinvenção. Me pergunto como se reinventar quando nossas fantasias são frutos de acontecimentos lá da relação entre o bebe e a mãe? E está claro para mim que a doença é um sintoma. A partir do momento em que eu me der conta de que esse sintoma não serve para nada, será abandonado. Existe em mim um desejo inconteste pelo reconhecimento do outro, daí eu sempre me colocar na posição de quem atende às demandas. O reconhecimento do outro se faz presente quando a falta não é possível de ser elaborada. Muito provavelmente minha mãe não foi a mãe suficientemente boa. Não se preocupara com suprir minhas necessidades, mas cuidara de mim de acordo com suas necessidades, suas vontades. É assim até hoje, quando me trata como um objeto, sem vontades. A não percepção da falta do outro, me faz viver numa tóxica simbiose com o outro, daí minha singularidade nunca é expressa. Ainda sou o falo da minha mãe. Compreendida a situação, permanece a questão: Como resistir? Se nos movemos de acordo com nossos desejos, então estaria eu a desejar a morte? Não. A doença não é um sintoma de um desejo pela morte; a doença é um sintoma de um desejo pela vida, não compreendido, não realizado. Além de ter de identificar meus desejos, preciso também identificar o que chamam de estádio do espelho, que me leva à ação. Por exemplo, eu me dei conta de que estava vivendo uma vida de barata no trabalho, como no livro Metamorfose de Kafka, quando concluí que, por mais que estivesse a dedicar minha vida àquilo, fui preterida num cuidado que achava ter direito a, em primeiro lugar. Explodi: é como se não me enxergassem, como se fosse invisível! Em casa também, quando meu marido demonstrou que eu não era merecedora de todos os cuidados que me dedicava, saí de meu estado de inanição. Compreendi que toda aquela inércia era desnecessária, porque não realizaria jamais meu desejo impossível de simbiose absoluta. 

16 de dez. de 2012

ENVELHECER

Vc se da conta do quanto envelheceu quando vai a uma festa de formatura e achando que, como no seu tempo, o 2º bloco de músicas, pós-valsa, é o melhor, reserva toda sua energia para dançar nesse momento e aí quando ele chega com uma sucessão sem fim de sertanejo, passa para Fagner, Sidney Magal, Gretchen, Xuxa, Balão Mágico (daí para frente não paguei para ver), conclui que o melhor bloco de músicas para vc passou a ser o 1º.

14 de dez. de 2012

PSICANÁLISE

Como Woody Allen, com suas sátiras, ou Cazuza, para quem pagar um analista é uma forma de nunca mais saber quem se é, sempre desacreditei da terapia, até ter a sorte de encontrar "O" terapeuta. Cazuza disse certo, com a intenção errada. Vc nunca mais vai saber quem é, ou melhor, quem pensa que é, até porque não se é, se está sendo. A vida é ação, no candomblé, movimento, no inglês, "i'm being". É assustador e ao mesmo tempo excitante se desconstruir e ter de ser reinventar.

5 de dez. de 2012

TRÂNSITO

De todas as atitudes machistas, confesso que tem apenas uma da qual não me livro. Não sei por que motivo considero um xingamento dirigido a uma mulher por um homem muito mais ofensivo do que a um homem ou o inverso. Sei lá, se fosse homem acho que jamais cometeria tamanha indelicadeza, me sentiria meio eunuco se o fizesse. Hoje, fui xingada no trânsito porque numa rotatória, sem pare, fiz valer a minha preferencial, pois já me encontrava na rotatória. Infelizmente, muita gente, não sei o porquê, já que há prova teórica para habilitação e renovação de CNH, não sabe que numa rotatória, sem sinalização de pare, a preferencial é de quem já se encontra na rotatória, assim como num cruzamento, sem sinalização de pare, a preferencial é de quem vem à direita. Deveria existir uma campanha televisiva nesse sentido, já que muitos não lêem as regras de trânsito, acham que dirigir é só acelerar, frear, dar ré, fazer baliza e etc. Por essas e outras, meu desejo de me mudar para o interior só cresce. Está cada dia mais complicado conviver num espaço público com tanta gente que não se respeita.