18 de nov. de 2011

DEPOIS DO RECESSO

Tanto tempo sem escrever, voltei. Escrever, como tudo na vida, é ato de vontade e há momentos em que precisamos de um retiro, de fazer barulho por dentro, organizar a bagunça e, só depois, nos comunicarmos com o mundo, esperando sermos compreendidos. 
Há dez anos, luto contra uma doença. No início, as chances de êxito eram de 90%. Como acabei no lado dos 10%, minhas chances de viver, ao longo do tempo, foram reduzidas a pó. Hoje, os médicos não conversam mais em termos de probabilidades de cura, mas de inventar um tratamento, um novo protocolo quimioterápico, que já não tenha sido utilizado. Tudo isso, porque exijo tratamento, não joguei a toalha ainda.
Mas devo confessar que, depois de minha última internação, estou bastante abalada. 
Faço questão de viver, mas não consigo viver. Fico à espera de nem sei ao certo o que. Suspensa, enquanto a vida escorre. E para complicar, minha dificuldade de respirar me impede de fazer muitas coisas, uma delas, minha paixão, dançar.
Não tenho medo da morte. Tenho medo de querer morrer e não conseguir.
Na última internação, experimentei o pior estágio de sofrimento humano. Não o estágio da dor, muito embora esta estivesse presente. Mas o estágio do terror, aquele em que a sua vontade e capacidade de ação, de superação, são completamente anuladas.
Por meses, permaneci imóvel, uma alma presa a um corpo, que não se mexia, falava e enxergava. Um corpo incapaz de expressar qualquer sentimento. Como um vivo dado por morto, compreendia e ouvia tudo, mas não podia participar de mim. Não podia fazer escolhas, nem ter resolvidas minhas necessidades, sede, fome, dor. O máximo do terror a que um ser humano pode se aproximar: sua vida sendo decidida por fora, sem qualquer conexão com o que se passava por dentro, no corpo objeto das decisões tomadas por outros. Após essa experiência, entendi toda a questão envolvendo a eutanásia. Um ser humano pode escolher viver, mas, em que pese sua escolha, acabar morto, porque a vida não é do domínio do homem. Ao contrário, pode escolher morrer e concretizar sua morte, porque esta é de seu domínio. A proibição da eutanásia vai de encontro a essa lei da natureza.  

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