19 de dez. de 2011

Experiência de quase morte


Preciso escrever sobre as visões que tive durante quase 8 meses de internação em uma UTI, antes que o tempo as apague de minha memória, e eu já não saiba mais distinguir o visto do imaginado.
Tudo começou assim:
Antes existia o nada. E, de repente, do nada acordei dentro de meu sonho, que se alimentava de elementos da realidade para tecer uma história diferente.
O despertar foi dentro de uma van. "Obrigada, Di, por haver descoberto esse tratamento muito humanizado, se não fosse você". Contaram-me que, a certa altura, os médicos resolveram me transferir para um dos únicos três disputadíssimos quartos de UTI considerados humanizados, porque admitiam acompanhantes. Por certo "humanizado" foi a primeira palavra que ouvi do mundo real e a repeti no meu mundo sonhado.
A van estava estacionada em frente a uma praça, próxima a uma escola de natação, e fazia um sol escaldante. Todos os dias o Di saia para dar um mergulho. Vê-lo voltar molhado refrescava-me, mas, ao mesmo tempo, aumentava meu desejo por água. Por algum motivo, eu não podia ainda sair daquela van para mergulhar.
Duas equipes médicas cuidavam de mim. A do Dr. Nelson não acreditava naquele tratamento humanizado, alternativo, maluco. A da Dra. Carmen, acreditava. O responsável pelo tratamento era um IPOD. Tudo acontecia por causa dele, por meio dele.
Na UTI, as mesmas equipes esforçavam-se pela minha recuperação, sendo que a da Dra. Carmen foi quem descobriu a causa do problema e prescreveu um tratamento de alto risco, que funcionou e salvou minha vida. Mas, antes de chegarmos ao fim, voltemos à van.
Dentro dela havia um personagem inusitado. Um robô na forma de pinguim, que andava ao som de repetidos "bips".
Na UTI, os bips vinham das máquinas às quais me mantinham ligada e significavam que minha saturação ou respiração haviam ultrapassado os limites padrões. Eram alertas para as enfermeiras.
Na minha van, elas, enfermeiras, não existiam. Eram instrutoras de natação, que, depois de algum tempo, me levaram para a piscina, mas, no primeiro mergulho, comecei a me afogar. Foram minutos embaixo d'água, sem conseguir respirar, sufocada, quando, no último segundo do último tempo, uma instrutora salvou-me, me puxando para fora da água. 
A última imagem foi a de um túnel. Nele uma luz tão intensa, para onde eu caminhava até começar a sentir medo, um medo que foi crescendo, crescendo, crescendo, para, num primeiro instante, me paralisar e, depois, me botar em fuga.
Acordei no quarto da UTI.
Contaram-me, depois de alguns dias, que um fio que me ligava a um medicamento importante para manter minha pressão soltou-se numa das visitas médicas, e que teria morrido não fosse, no último segundo do último tempo, uma enfermeira detectar o problema.
O IPOD também existiu de verdade. O Di passava todos os dias colocando-o, em meus ouvidos, para tocar minhas músicas preferidas.


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