27 de jan. de 2011

SÃO PAULO, UM BOM LUGAR PRA SE VIVER? PARTE II



Ainda não consegui responder à pergunta a que me propus no post anterior. 
Por que os melhores pensamentos surgem à noite, na exata hora em que não estamos despertos o suficiente para nos levantarmos, nem dormindo o bastante para não criarmos?
São Paulo, a São Paulo das classes média e alta, não é uma cidade tão ruim quanto pintam. 
Quando uma cidade cresce, atrai inevitavelmente indústrias, comércios e serviços e, num mercado tão competitivo, apenas os bons sobrevivem. Assim, diferentemente de outras metrópolis, São Paulo atrai pelas ótimas oportunidades de emprego, comércio variado e serviços de primeira. É o reduto dos bons arquitetos, engenheiros, médicos, museus, restaurantes, shows, peças teatrais, cinema, coisas que em outras cidades o cidadão tipicamente urbano não encontra em tantas variedades, e por isso se irrita. Já vivi, por seis meses, em Salvador (em esquema de "ponte aérea") e posso afirmar que lá, apesar de uma grande cidade, capital da Bahia, as coisas funcionam de forma bem precária (comparada à São Paulo, é claro). Como a oferta é menor, você tem de se sujeitar. Os serviços não se aperfeiçoam porque não há concorrência. Para se ter uma idéia, naquela cidade há fila de espera para instalação de internet nas residências. Existe apenas um mercado onde você encontra produtos com marcas nacionalmente conhecidas. Fora dele, qualquer "vendinha" ou mercado não vendem marcas conhecidas. Restaurantes, se você for aos tradicionais e consagrados, os de comida típica baiana, será servido de um verdadeiro manjar dos deuses (até hoje encho a boca de saliva só de lembrar dos bobós de camarão e acarajés). O resto? Não serve nem comida quente (e aqui o termo está sendo empregado no sentido convencional mesmo, e não baiano, rs).
A cidade é linda, deslumbrante (ainda estou falando da parte rica), mas atrasada quando o assunto é indústria, comércio, serviço e todo o mais que vem agregado ao bom desenvolvimento desses três fatores.
Agora, o problema de São Paulo é que tudo que atrai muita gente tende ao caos.
Não precisa ir muito longe para enxergar a drástica redução dos metros quadrados de cada um.
E mais: quanto maior o número de pessoas vivendo aglomeradas num determinado espaço, maior o anonimato. 
Essa perda da dimensão individual de cada um, reduzidos que somos a números e estatísticas, é responsável por boa parte dos problemas da nossa Cidade.
Em uma cidade pequena as pessoas costumam reclamar de falta de privacidade. Em Itabiboca da Serra (nome fictício), o cara que deve pro açougue e não paga pega fama de caloteiro por toda a cidade. Então, a moral e os bons costumes de uma cidadezinha provinciana é lei e manda no caráter e comportamento das pessoas, ainda que, entre quatro paredes, e sem testemunhas, essas mesmas pessoas se sintam livres para fazerem o que bem entenderem, e até contrariarem a moral e os bons costumes válidos da porta de casa pra fora.
Nas megalópolis, em geral, a moral não é bem vinda, o que é um aspecto positivo, enquanto a entendemos como um conjunto de regras de costumes não necessariamente boas à felicidade humana. Porém, a falta de percepção de cada indivíduo como indivíduo (o anonimato em sua forma ampla) traz consigo um aspecto negativo: eu devo e ninguém fica sabendo (mau-caratismo na sua forma simples) .
Assim, o indivíduo que não possui uma ética impressa em seu caráter acaba por valer-se do lema "a cidade não repara mesmo em mim" para fazer o mal, sem punição.
Acho que esse é o pior problema de uma cidade como São Paulo.
Se o desenvolvimento econômico não vem precedido por um desenvolvimento cultural e civilizatório, a cidade não funciona e somos chamados diariamente a um teste de paciência e tolerância com aqueles que fingem desconhecer regras básicas de convivência social pacífica.

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