7 de ago. de 2013

TODOS CONTRA TODOS

Tenho visto todos se digladiarem. São enfermeiros contra médicos, médicos contra planos de saúde, planos de saúde contra consumidores, consumidores contra pacientes, pacientes contra o governo, governo contra a oposição, e nesse redemoinho de transferência de responsabilidades não enxergamos que a luta por algo melhor poderia ser de todos, juntos, contra aqueles que, de fato, nos fazem engolir goela abaixo essas condições adversas, ao invés de as classes se fecharem em si e declararem guerra contra os outros (outros que normalmente não são os vilões, mas mais fácil de bater). Os médicos querem condições dignas de trabalho e serem bem remunerados; os pacientes, serem bem atendidos e tratados; os consumidores, terem seus direitos respeitados. É claro que nesse meio sempre haverá médicos a destratar pacientes e outros profissionais da saúde, e pacientes a destratar médicos, enfermeiros e balconistas, gratuitamente. Mas o problema maior da humanidade (ainda me pergunto se curável ou incurável) acho que está no instinto de autopreservação, a falar mais alto, quando se age numa determinada situação, acreditando que se está diante do "ou eu" ou "o outro". Daí temos um prato cheio para entender tantos absurdos como os de hoje (e de ontem; será de sempre?): médicos que aceitam remunerações pífias e restrições de exames por parte dos planos de saúde, mas, para garantir seus ganhos e aumentos de rendas (afinal, precisam pagar suas contas, ascender na vida - quem não quer? - fazer patrimônio, garantir o futuro dos filhos, usufruir de coisas, lugares, que só o dinheiro compra, gozar de um status na sociedade, que pauta seus valores pelo capital, aumentar seu poder aquisitivo, etc), transferem a conta, o ônus disso tudo, para a parte mais frágil da relação, os pacientes, (por exemplo, marcando consultas de 5 minutos). Essa triste realidade se estende para praticamente tudo na vida. Certamente muitos encontrarão diversos exemplos, nessa linha, em seus próprios ambientes de trabalho. Disse que é uma questão de instinto, mas, pensando bem, como o homem é um ser cultural, acho que é uma questão de ética. Os médicos que nunca enfrentaram aqueles que lhes impuseram as condições com as quais estão insatisfeitos foram covardes. Se agora, com as medidas do governo, se sentiram mais ameaçados e resolveram batalhar, por exemplo, pela reserva de mercado, luta a que hipocritamente chamam "por  um SUS melhor" (provavelmente para ter o apoio das massas), que façamos um bom uso disso, ou seja, hora de todos cobrarem do Estado o cumprimento de seu dever.

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